domingo, 20 de setembro de 2009

Incrivel (in)significancia de um calouro





Entra ano e sai ano e pouco muda no quesito Universidade Pública, e não estou falando do descaso. Falo da constante rotação existente. Todo ano tem o período de provas para entrar(o temido Vestibular), a angustiante época de Resultados- que para alguns termina com extrema alegria - e a enfim chegada a Universidade Pública. Mas espera aí...Não é só isso. Todo mundo que entra numa Universidade Pública sabe que, por tradição, esperteza ou seja lá qual motivo, o primeiro momento é de TROTE.
Trote?Uma alusão à forma pela qual os cavalos se movimentam entre a marcha lenta e o galope, o termo vem da Era Medieval quando os candidatos aos cursos das primeiras universidades europeias não podiam frequentar as mesmas salas que os veteranos e, portanto, assistiam às aulas a partir dos "vestíbulos" - local em que eram guardadas as vestimentas dos alunos. "As roupas dos novatos eram retiradas e queimadas, e seus cabelos, raspados. Essas atividades eram justificadas sobretudo pela necessidade de aplicação de medidas profiláticas contra a propagação de doenças. Calouro X Veterano. É como se o primeiro devesse ser "domesticado" pelo
segundo por meio de práticas vexatórias e dolorosas, que têm a função de esclarecer quais são as características das respectivas identidades. Hoje a ideia é mostrar a mesma coisa, mas com tons bem mais leves, quase de amizade.


De inicio isso tudo assusta um pouco, principalmente a aqueles filhinhos da mamãe que acham que seus veteranos vão rasgar suas roupas, fazê-los comer olhos de cabra, caminhar por brasas e por fim arrancar seus órgãos pela boca...[Quase entram num filme de terror].Provavelmente acham tudo isso porque andam assistindo muito "Linha Direta" e "No Limite". No trote Não rola faca, nem sangue, só maldades sadias. Mas vai explicar o que é maldade sadia. Droga, nem eu sei que raio é isso. Mas enfim, não preciso mais saber, toda minha curiosidade já está morta, afinal já fui calouro e agora sou veterano, portanto estive dos dois lados do trote, e posso garantir que o melhor é ...Ah, não importa o melhor, tem que viver os dois momentos de maneira única.
Esse ritual toma formas diferentes pelas diversas regiões onde acontece, mas sempre passando por muitas brincadeiras e uma certa dose de "terror". Do Sul ao Norte do Brasil, o Trote é caracterizado como um rito de iniciação e de passagem, fundamentado numa integração de caráter sadomasoquista(HAHA, sempre quis falar isso), pois serve para vingar uma dor física e psicológica sofrida por alguém (o veterano, claro) na universidade.
Só que isso é distorcido e para o calouro isso passa a significar, entre outras coisas, a possibilidade de se sentir integrado na vida universitária e de se conformar com a promessa de que poderá se vingar das pancadas e, sobretudo, humilhações, no próximo ano, quando se tornar veterano."Alegria, Alegria, Calouro"
Desde o inicio de sua aplicação no Brasil, por volta de 1820, essa manifestação já sofreu alguma retaliações. Vez ou outra algum caso espantoso toma o cenário e traz a questão a tona. Alguns casos de extrema distorção do ritual envolvem abuso sexual e apologia ao uso de drogas, outros ainda chegam a ser fatais, resultando na morte de Calouros, como foi o caso visto por todo o Brasil do estudante Edison Tsung Chi Hsueh, que ingressava na prestigiosa Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Na manhã seguinte ao churrasco de recepção aos calouros, o corpo do estudante foi encontrado no fundo da piscina da associação atlética da faculdade. Não sei se o mais forte para mim é me imaginar dentro da USP fazendo Medicina(quem me conhece sabe do sonho) ou tamanha ignorância desses animais a ponto de causar isso. É, porque não consigo pensar que são pessoas normais; será que o estudo afetou a cabeça? Não se sabe ao certo o que aconteceu por lá, mas sabe-se que essa não é uma realidade geral, portanto a tradição não cessou.
Algumas Universidade, de SP principalmente, lutam contra todo e qualquer tipo de manifestação desse gênero, o que é absolutamente insuficiente, já que o Trote já tem seus seguidores, sendo eles até mesmo os Calouros(é, no Rio se chama assim)... É claro que violência bruta não pode acontecer, e isso não deveria nem precisar ser discutido, mas tem sim que haver trote. Uffa, ainda bem que eu sou do Rio.
A proposta para diminuir a preocupação é usar esse momento de Iniciação para o lado solidário, e aí que entra o lado emotivo do povo brasileiro. Ao invés de tintas e "pedágios", os calouros fazem boas ações, ajudam em orfanatos, doam sangue e etc...Dá show de humanidade e eu sou totalmente a favor deste modo, desde que não isolado. Não que Universitário não possa "falar" sério, mas a vida já tem sido tão encurtada. Não pode juntar alegria, diversão, tinta e solidariedade?
Quando fui calouro acho que cheguei a ser até meio chato, era tanta euforia, eu queria mostrar para o mundo a minha nova conquista, eu queria me sentir universitário. Foi tinta para todo lado, acho que até hoje deve ter algum vestígio dela em mim, e não por falta de banho. Aproveitei muito, ri demais, pedi muito dinheiro, ah...e fiquei muito cansado. Mas no fim do trote, era apenas a terceira semana e eu já conhecia todo mundo, já sabia das lendas da Universidade, já tinha ouvido cada história. Sem contar que o fechamento de todo aquele esforço nas duas semana de trote, a mercê dos meus veteranos, foi numa bela chopada, com muita gente legal e diversão(Não vou falar da bebida.xD).
Hoje, um ano após ter entrado na Faculdade já tenho meus próprios calouros, sei exatamente o que passa pela cabeça deles, assim como sei também o que fazer com eles. Afinal, é a minha hora. Chamar de burro, fazer correr, pintar dos pés a cabeça, mandar pegar dinheiro, assistir a uma bela "ola" de bunda, ver calouro se "enfarinhando"numa tigela na caça a uma bala - E AI DELES SE NÃO ACEITAREM. Calouro tem que ser obediente.
A vida segue, logo logo eles também ganham calouros, fazem as mesmas brincadeiras e jamais esquecerão das fotografias e lembranças que o tempo deixou. Amizades para a vida toda, cumplicidade para os temidos tempos difíceis dentro das salas, formação de seus próprios valores diante da enorme gama ali apresentada, aprendizado ao perceber o quanto é difícil viver de "esmolas", percepção do quanto se é privilegiado de fazer parte de uma minoria que consegue chegar lá - Como algo que proporciona tanta coisa boa pode ser ruim?
...ao fim de tudo percebemos que importante não foi APENAS o diploma, mas também todo o caminho até ele.

Trote?Porque não?
O problema não está no ritual, está em quem o pratica. Se é para mudar, que mudemos as pessoas.

5 comentários:

  1. Valeu !


    Todos podemos viver em busca de um " Parque "

    Eu procuro os de Diversoes e você ?

    Pense nisso !


    Obs : Gostaria de saber se você gostaria de ter parceria com o meu Blog :D

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  2. Eu vejo o trote como um excelente momento pra se conhecer pessoas.
    O sistema de créditos, infelizmente, faz com que as amizades se tornem menos possíveis, as pessoas se afastam muito, não conseguem fazer matérias juntas, essas coisas...
    Os meu amigos da Faculdade, são os mesmos da época do trote.
    Portanto, viva o trote!!!
    hahaha

    Bjos

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  3. Sou a favor do Trote...
    Mas do Trote social...
    Somente esse...
    Passei 2 x por trote...e achei legal...
    Abraços
    Cia dos Botecos www.ciadosbotecos.blogspot.com

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  4. O trote é algo tão inofensivo e abertura para grandes amizades...?
    Na sua frase " e ai deles se não aceitarem", quais foram as penalidades?Como foram punidos os que não aceitaram?
    O trote dito inofensivo é punitivo, excludente, persecutório e deve ter provocado alguns inimigos, não?

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