terça-feira, 29 de setembro de 2009

Atração Fatal



O Brasil e o mundo estão passando por um período único na história da humanidade. Onde cada dia, ao piscar dos olhos, o que era certo parece tornar-se errado e o errado parece tornar-se certo.
Com freqüência, dia pós dia, percebemos que a o ato de quebrar regras e desrespeitar normas é objeto de admiração de muitas pessoas. Quando alguém se esforça para ser uma pessoa mais correta e humana, passa-se a observar a perda de interesse pela mesma; ela passa, entre outras coisas, a ser taxada de brega ou a sofrer humilhações e opressões. É na verdade antagônico e absurdo.. . É inacreditável que isso aconteça em todos os setores da sociedade, desde o ambiente de trabalho, seja ele formal ou informal, até o ambiente familiar, onde deveria haver valores morais e éticos enraizados.
Quando percebemos que o mau comportamento em vez de receber reprovação recebe admiração e ainda é imitado, torna explícito o absurdo da inversão de valores que vivemos na sociedade pós-moderna. Exemplo maior do que o conhecido reality show da Rede Globo de Televisão não há, onde a observação de pessoas se relacionando em um lugar isolado não garante por si só o sucesso do mesmo, necessita-se de algo mais forte, para isso percebe-se que uns personagens optam por um comportamento “rebelde” ou indisciplinado para atrair simpatia, e o pior, obtém sucesso, tornam-se, quando não vitoriosos, a grande atração do programa. Porque se mostram maus e ignorantes, completos vilões, atraíram afeto e admiração. Mas com isso penso eu, Se a indisciplina e a rebeldia geram simpatia, o que pensar dos que prezam a disciplina e educação?Mocinhos, não mais?
Não quero e nem vou fazer juízo de valor das pessoas que adimiram, nem tampouco dos que criticam, mas minha ideia aqui é mostrar o quanto estamos contorcendo nossos valores; fazer-nos perceber qual é o valor afinal da ética e do respeito.
Nas escolas percebemos cada vez mais as agressões sofridas pelos mais tímidos e ditos corretos. Estes deixaram de ser elogiados pelas boas notas e bom comportamento e passaram a ser alvo de chacota, afinal, o interessante é ser prepotente, arrogante, burrro, idiota.
A vida não é tempo suficiente para fazer esquecido tudo o que foi ensinado na infância; não é por nada que nossos pais, tios e avós nos ensinam desde tão cedo grandes valores da vida e grandes sentimentos. Não faz muito tempo que os pais ou avós ensinavam que os homens deviam ser cavalheiros com as mulheres, ou que as pessoas deviam se manter, AO MENOS, a nível de respeito. Ouviu-se dizer que era fundamental ao ser humano a generosidade e cordialidade, no entanto, hoje, nem se sabe o que essas palavras significam, foram deixadas de lado, e ai de quem tentar reaviva-las, ao se sujeitar a isso assina o atestado de antiquação.
Não é difícil perbecer que vez ou outra alguém que é notado em ações de bondade é definido como pateta e alguém que age maldosamente recebe aplausos, neste momento temos, um raio X, que mostra que a sociedade caminha a passos largos para um mundo amoral e repleto de conflitos.
Alguns dizem que alguns pontos serão vistos na sociedade futura.:
-Filhos não respeitarão os pais, e se o fizerem , serão até criticados pelos seus amigos.-Teremos casais sem princípios essenciais a uma convivência duradoura e saudável.-Não haverá renúncia, compreensão e bem-estar entre cônjuges, pois o homem que renunciar será tido ´por “dominado” e a mulher se o fizer será titulada por “Amélia”.-O bom funcionário será “puxa-saco” e o negligente será exemplar.-O cônjuge infiel será bem-visto e o fiel será subestimado.
Ué, mas então o futuro já chegou?…é agora?

Fica fácil entender por que Rui Barbosa disse:
“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.

Muitos dizem ainda em GRANDE influência dos meios de Comunicação na criação de um novo modelo, ao qual as pessoas passariam a seguir cegamente. É, inevitavelmente, quando assistimos televisão, quando lemos jornais, quando ouvimos uma música ou em qualquer outra forma de mídia, somos bombardeados por uma falsa liberdade, que na verdade não passa de uma tentativa de banalizar nossas mentes, para que aceitemos tudo o que eles querem nos impor, mas será mesmo só isso?
E mesmo que assim sendo, não dá para se isentar do seu individual, até porque para isso ocorrer deve haver algum vazio em nós que permita que nos preencham com indevido conteúdo. É patente, em atuações de novelas e filmes, os maus receberem simpatia e os bons serem ridicularizados. Em filmes, os viciados e irregulares são alvos de apreço e como mencionado anteriormente, em reality shows os bad boys são favoritos a vencedores. Mas quem aceita que assim seja?Quando passa uma novela na TV onde um personagem é gay, a intenção não é mostrar a realidade de um homossexual e que este, como um ser humano, deve ser respeitado e ter seus direitos, mas sim impor-nos que o homossexualismo é uma coisa normal e saudável, o que não é verdade.Quando mostram dezenas de filmes cheios de adolescentes se drogando e depois vêm com uma novela hipócrita mostrando uma situação tão exagerada e mal feita – se uma mãe comparar o comportamento do seu filho com o personagem vai achar que seu filho é um anjo, quando esse na verdade pode estar se drogando desde a infância e os sintomas não serem aqueles – eles não querem conscientizar as pessoas do mal que é a droga, mas mostrar que são politicamente corretos, isto é, hipócritas!Quando transmitem músicas de bandas como “É o Tchan” e diversos funks com refrões do tipo “vai popozuda”, ou em programas como o “Show da Xuxa”, onde as crianças ficam dançando e se vestindo como essas “dançarinas” ou “apresentadoras”, não estão levando diversão para as crianças, na verdade estão induzindo a sexualidade precoce nessas crianças.Quando passam filmes e notícias de países como os EUA e os da Europa, sobre as brigas raciais ou sobre medidas tomadas pelos governos desses países em relação ao racismo, não querem que o racismo no Brasil diminua ou mesmo acabe, o que eles querem é que nosso racismo, que infelizmente ainda existe em nossa Pátria, seja como o deles, isto é, segregacionista. Um racismo que segrega e divide as raças, tanto em bairros ou guetos, quanto em bares, lojas, estilos musicais, escolas e faculdades, etc, quanto na própria convivência pacifica entre elas.
O racismo no Brasil existe sim, mas tem características totalmente diferentes a essas. O preconceito do brasileiro é muito mais social do que racial, e mesmo que o preconceito racial exista, não se manifesta em formas violentas. Em que lugar do Brasil aconteceram conflitos como os ocorridos na Califórnia na década de 90, ou as constantes pancadarias entre europeus e imigrantes? O que mais aparece na nossa sociedade, em relação ao racismo, é a injúria, que é o ato de xingar ou ofender outra pessoa. Ah, e Gostaria de saber onde fica o verdadeiro índio nessa história de cotas raciais? Será que um real indigena seria recebido de maneira digna numa universidade? Sim, digo Índio de verdade, não farçantes espertinhos.Dependerá dos líderes, oradores, conselheiros, escritores e agentes de posições similares, propagar os bons conceitos e incutir o repúdio à má conduta, bem como reconhecer com apreço os bons costumes. Isso é, se todas essas palavras também nãO mudarem de significado.
A inversão de valores compromete o convívio social e deve ser combatida com rigor, pois já se percebe sua atuação(negativa) no desenvolvimento humano.

Pense daí, eu penso daqui, quem sabe um dia nossas ideias passem a ter o mesmo peso

domingo, 20 de setembro de 2009

Incrivel (in)significancia de um calouro





Entra ano e sai ano e pouco muda no quesito Universidade Pública, e não estou falando do descaso. Falo da constante rotação existente. Todo ano tem o período de provas para entrar(o temido Vestibular), a angustiante época de Resultados- que para alguns termina com extrema alegria - e a enfim chegada a Universidade Pública. Mas espera aí...Não é só isso. Todo mundo que entra numa Universidade Pública sabe que, por tradição, esperteza ou seja lá qual motivo, o primeiro momento é de TROTE.
Trote?Uma alusão à forma pela qual os cavalos se movimentam entre a marcha lenta e o galope, o termo vem da Era Medieval quando os candidatos aos cursos das primeiras universidades europeias não podiam frequentar as mesmas salas que os veteranos e, portanto, assistiam às aulas a partir dos "vestíbulos" - local em que eram guardadas as vestimentas dos alunos. "As roupas dos novatos eram retiradas e queimadas, e seus cabelos, raspados. Essas atividades eram justificadas sobretudo pela necessidade de aplicação de medidas profiláticas contra a propagação de doenças. Calouro X Veterano. É como se o primeiro devesse ser "domesticado" pelo
segundo por meio de práticas vexatórias e dolorosas, que têm a função de esclarecer quais são as características das respectivas identidades. Hoje a ideia é mostrar a mesma coisa, mas com tons bem mais leves, quase de amizade.


De inicio isso tudo assusta um pouco, principalmente a aqueles filhinhos da mamãe que acham que seus veteranos vão rasgar suas roupas, fazê-los comer olhos de cabra, caminhar por brasas e por fim arrancar seus órgãos pela boca...[Quase entram num filme de terror].Provavelmente acham tudo isso porque andam assistindo muito "Linha Direta" e "No Limite". No trote Não rola faca, nem sangue, só maldades sadias. Mas vai explicar o que é maldade sadia. Droga, nem eu sei que raio é isso. Mas enfim, não preciso mais saber, toda minha curiosidade já está morta, afinal já fui calouro e agora sou veterano, portanto estive dos dois lados do trote, e posso garantir que o melhor é ...Ah, não importa o melhor, tem que viver os dois momentos de maneira única.
Esse ritual toma formas diferentes pelas diversas regiões onde acontece, mas sempre passando por muitas brincadeiras e uma certa dose de "terror". Do Sul ao Norte do Brasil, o Trote é caracterizado como um rito de iniciação e de passagem, fundamentado numa integração de caráter sadomasoquista(HAHA, sempre quis falar isso), pois serve para vingar uma dor física e psicológica sofrida por alguém (o veterano, claro) na universidade.
Só que isso é distorcido e para o calouro isso passa a significar, entre outras coisas, a possibilidade de se sentir integrado na vida universitária e de se conformar com a promessa de que poderá se vingar das pancadas e, sobretudo, humilhações, no próximo ano, quando se tornar veterano."Alegria, Alegria, Calouro"
Desde o inicio de sua aplicação no Brasil, por volta de 1820, essa manifestação já sofreu alguma retaliações. Vez ou outra algum caso espantoso toma o cenário e traz a questão a tona. Alguns casos de extrema distorção do ritual envolvem abuso sexual e apologia ao uso de drogas, outros ainda chegam a ser fatais, resultando na morte de Calouros, como foi o caso visto por todo o Brasil do estudante Edison Tsung Chi Hsueh, que ingressava na prestigiosa Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Na manhã seguinte ao churrasco de recepção aos calouros, o corpo do estudante foi encontrado no fundo da piscina da associação atlética da faculdade. Não sei se o mais forte para mim é me imaginar dentro da USP fazendo Medicina(quem me conhece sabe do sonho) ou tamanha ignorância desses animais a ponto de causar isso. É, porque não consigo pensar que são pessoas normais; será que o estudo afetou a cabeça? Não se sabe ao certo o que aconteceu por lá, mas sabe-se que essa não é uma realidade geral, portanto a tradição não cessou.
Algumas Universidade, de SP principalmente, lutam contra todo e qualquer tipo de manifestação desse gênero, o que é absolutamente insuficiente, já que o Trote já tem seus seguidores, sendo eles até mesmo os Calouros(é, no Rio se chama assim)... É claro que violência bruta não pode acontecer, e isso não deveria nem precisar ser discutido, mas tem sim que haver trote. Uffa, ainda bem que eu sou do Rio.
A proposta para diminuir a preocupação é usar esse momento de Iniciação para o lado solidário, e aí que entra o lado emotivo do povo brasileiro. Ao invés de tintas e "pedágios", os calouros fazem boas ações, ajudam em orfanatos, doam sangue e etc...Dá show de humanidade e eu sou totalmente a favor deste modo, desde que não isolado. Não que Universitário não possa "falar" sério, mas a vida já tem sido tão encurtada. Não pode juntar alegria, diversão, tinta e solidariedade?
Quando fui calouro acho que cheguei a ser até meio chato, era tanta euforia, eu queria mostrar para o mundo a minha nova conquista, eu queria me sentir universitário. Foi tinta para todo lado, acho que até hoje deve ter algum vestígio dela em mim, e não por falta de banho. Aproveitei muito, ri demais, pedi muito dinheiro, ah...e fiquei muito cansado. Mas no fim do trote, era apenas a terceira semana e eu já conhecia todo mundo, já sabia das lendas da Universidade, já tinha ouvido cada história. Sem contar que o fechamento de todo aquele esforço nas duas semana de trote, a mercê dos meus veteranos, foi numa bela chopada, com muita gente legal e diversão(Não vou falar da bebida.xD).
Hoje, um ano após ter entrado na Faculdade já tenho meus próprios calouros, sei exatamente o que passa pela cabeça deles, assim como sei também o que fazer com eles. Afinal, é a minha hora. Chamar de burro, fazer correr, pintar dos pés a cabeça, mandar pegar dinheiro, assistir a uma bela "ola" de bunda, ver calouro se "enfarinhando"numa tigela na caça a uma bala - E AI DELES SE NÃO ACEITAREM. Calouro tem que ser obediente.
A vida segue, logo logo eles também ganham calouros, fazem as mesmas brincadeiras e jamais esquecerão das fotografias e lembranças que o tempo deixou. Amizades para a vida toda, cumplicidade para os temidos tempos difíceis dentro das salas, formação de seus próprios valores diante da enorme gama ali apresentada, aprendizado ao perceber o quanto é difícil viver de "esmolas", percepção do quanto se é privilegiado de fazer parte de uma minoria que consegue chegar lá - Como algo que proporciona tanta coisa boa pode ser ruim?
...ao fim de tudo percebemos que importante não foi APENAS o diploma, mas também todo o caminho até ele.

Trote?Porque não?
O problema não está no ritual, está em quem o pratica. Se é para mudar, que mudemos as pessoas.